As dores emocionais de quem faz um trabalho de conclusão de curso: dicas para sua sobrevivência

Você fez um TCC na sua graduação, faz ou fará pós-graduação para se atualizar, dar um upgrade no seu currículo.

Life long learning é a palavra de ordem para quem está no mundo do trabalho. Porém, quando você escolhe fazer uma graduação ou pós-graduação em nível de especialização, mestrado ou doutorado, muitas variáveis estão envolvidas. Nem sempre é fácil. Desde o processo seletivo até a defesa é um vale de risos e lágrimas.

Há anos os pesquisadores se interessam sobre a saúde mental dos estudantes de mestrado e doutorado. Estudos de 2009 da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) publicou uma pesquisa que constatou que que 60% dos estudantes estavam estressados.

Em 2013 a Universidade Federal do Rio Grande do Sul publicou outro trabalho constatando que os acadêmicos estavam com problemas para dormir (UFRGS).

Internacionalmente, estudos publicados no periódico Nature Biotechnology  (https://www.nature.com/articles/nbt.4089), em 2018, apontam que o ambiente da pós-graduação aumenta em seis vezes a chance de sofrer com a ansiedade e a depressão. Não raro os casos de estudantes com relatos de problemas cuja consequências impactam o seu estado emocional.

Em 2020, um estudo publicado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (https://periodicos.ufrn.br/casoseconsultoria/article/download/25290/14302) constatou que os seus estudantes estavam com: “dificuldade de comunicação com colegas, professores e orientadores, o medo de perder o emprego, o surgimento e/ou intensificação de sintomas relacionados à transtornos mentais, como ansiedade, irritabilidade e falta de foco e concentração.”.

Como se observa, as causas para o desenvolvimento de sintomas ansiosos e depressivos são multifatoriais, destacando-se: competitividade, incertezas da vida profissional, pressão quanto aos prazos, exigências para publicações científicas, irritabilidade, insônia, autocobrança desproporcional e em muitos casos decorrentes das exigências do orientador ou orientadora, estresse crônico, preocupação socioeconômica consigo ou com a família, relação difícil com os pares, com o orientador e mais recentemente dificuldade de se inserir no mercado de trabalho.

Há alguns anos fiz mestrado, doutorado. Foram cinco anos dedicados a esse projeto pessoal. Com minha experiência, realizo mentoria acadêmica, com foco na busca de equilíbrio acadêmico e emocional. Os relatos de casos de assédio dos meus mentorandos são reais. As realidades que eles viveram desencadearam e desencadeiam estresses desnecessários.

Logicamente, para realizar mestrado e doutorado há a necessidade de compreender o rigor metodológico que deve ser ensinado pelo orientador, apreendido pelo acadêmico que, de forma autônoma, precisa aplicar em seus estudos.

Contudo, a forma como o programa ou mesmo o orientador conduz o processo de ensinar ciência, em alguns casos, atinge de forma cruel a crença de capacidade, de autoeficácia dos estudantes. Resultado: desmotivação, tristeza, raiva, frustração, medo, dentre tantas outras emoções que fervilham a cabeça impedindo a produção acadêmica.

Realizar estudos em nível de mestrado e doutorado é desafiador. Porém, o processo pode ser menos cruel. Essa realidade precisa ser discutida, pesquisada, estudada para que soluções sejam apresentadas e implementadas para prevenir, evitar danos psicológicos.

Para te ajudar de alguma forma, apresento algumas dicas que considero relevantes no processo: 1) não se cobre tanto; 2) organize sua rotina; 3) tenha tempo para o ócio, para o descanso; 4) procure ajuda profissional (realizar psicoterapia, adotar um coorientador se for necessário) para levar adiante o processo.

Sabemos que os estudos de mestrado e doutorado exigem muito dos acadêmicos. Eu sei disso. Passei cinco da minha vida nesse ambiente. O ato de pensar, escrever, ter raciocínio crítico e colocar tudo em um texto inteligível, com rigor metodológico é complexo. No meio disso tudo, precisamos ter consciência das nossas limitações.

Existem obstáculos transponíveis. Outros são mais difíceis de superar, mas não impossíveis. Daí a importância do orientador e/ou coorientador. Para que o processo fique mais leve, observe a sua autocobrança, mas não a ponto de depreciar a sua jornada. Se está difícil, procure ajuda. Jamais adote a postura de carrasco de si mesmo. Observe-se. Escolha a postura de autocompaixão e humildade sobre o que sabe e o que ainda precisa aprender, com equilíbrio.

Existem estudos científicos que dizem que quando organizamos por fora, estamos também organizando por dentro. Ter rotina faz parte desse processo. Na medida que a rotina te dá previsibilidade você não tem, em tese, a experiência de ser pega de surpresa naquele momento em que precisa estar focado nas leituras, na escrita. Tenha tempo delimitado para tudo nesse período de estudos mais profundos.

Ao estabelecer sua rotina, você pode deixar um tempo diário ou semanal para momentos de ócio. São nessas situações que grandes ideias surgem. Adira ao hábito de ter um caderninho de notas e nesses minutos, horas de prazer, solitude, faça anotações de ideias que se conectam com sua pesquisa. Nos períodos de estudos e escritas acadêmicas, revisite seus apontamentos. Você vai se surpreender.

E se, diante da realidade que se apresenta para você, o fardo for muito pesado, procure ajuda. Jamais negligencie a sua saúde mental. Observe-se. Perceba seu diálogo interno, suas reações fisiológicas diante do estresse acadêmico. Tenha consciência da sua rede de apoio. Busque dialogar com ela quando precisar. Quanto à sua família, adote uma postura sincera explicando os seus desafios e as suas necessidades, inclusive de permanecer algum tempo ausente para que consiga produzir.

Portanto, o mais importante de tudo isso é que: você está em busca do seu sonho. A sensação de dever cumprido e de conquista pessoal depois da defesa é inexplicável. Confia no processo. Procure ajuda, se for preciso. Você vai conseguir.

[1] TOMAZ, Marcilea et al. A saúde mental em tempos de desafios e retrocessos: uma revisão. Argumentum, v. 12, n. 2, p. 91-106, 2020.